Estima-se que cerca de 100 pessoas por ano acabem com a própria vida no bosque, que fica aos pés do monte Fuji. A cerca de 115 quilômetros de Tóquio, no Japão, seu nome significa “Mar de Árvores”, mas ela é conhecida no país como “a floresta do suicídio” e atrai pessoas que desejam dar fim a suas vidas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Japão teve 9,2 suicídios por cem mil habitantes em 2015 — mais que o triplo do Brasil, que registrou 2,7 no mesmo período. No total, foram 24.025 suicídios no ano. Logo na entrada, a frase “a vida é um dom precioso” está gravada em uma grande placa. “Pense mais uma vez em seus pais, irmãos ou filhos (…). Por favor, não sofra sozinho, peça ajuda primeiro”, diz a mensagem.
Especula-se que a fama da Aokigahara tenha começado por causa de um popular romance de 1961, Nami no To, escrito por Seicho Matsumoto. Uma das personagens da história, ao perceber que nunca poderia ficar com o homem que ela amava, decide cometer suicídio na floresta. Segundo a emissora americana Fox News, foram encontrados indícios de que a área era usada no passado para a prática do ubasute — o abandono de idosos nas florestas durante épocas em que havia escassez de comida.
Especialistas pesquisam os motivos pelos quais os suicidas japoneses escolhem a Aokigahara há anos, reportou a CNN. O psiquiatra Yoshitomo Takahashi entrevistou sobreviventes de tentativas de suicídio feitas na floresta e concluiu que “eles acreditavam que conseguiriam se matar sem serem vistos por ninguém”. Em seu livro, publicado três décadas atrás, ele afirmou que filmes e notícias também podem ter influenciado a escolha. Algumas pessoas viajavam de outras províncias até a floresta porque desejavam “dividir o mesmo lugar com outros e pertencer ao mesmo grupo”, escreveu.
Karen Nakamura, professora de antropologia na Universidade de Berkeley que foi ouvida pela CNN, vê uma relação entre a floresta e os fóruns online sobre suicídio, comuns no Japão. Ela citou a pesquisa do antropologista Chikako Ozawa-de Silva, que concluiu que os fóruns são uma saída para as pessoas que querem cometer suicídio mas que buscam conexões sociais por temerem o isolamento. “Muitas pessoas se suicidaram em Aokigahara, então você não morreria sozinho”, disse Nakamura.
Lugar silencioso e de vegetação densa tem há décadas a triste fama de atrair pessoas que buscam pôr fim à própria vida. O governo japonês tem tentado diminuir o número de suicídios no local. A polícia do município de Yamanashi, responsável pela área, contratou guias florestais para monitorar o parque e identificar pessoas agindo de forma suspeita ou que aparentem precisar de ajuda.
A região é tradicionalmente associada com a morte. O bosque é repleto de cartazes oferecendo informações sobre atendimento telefônico anti-suicídio e serviços de atendimento psicológico. Alguns também pedem aos visitantes que reflitam sobre "o presente que é a vida e a dor que você pode causar a sua família". Trabalhadores do comércio local também se voluntariam nos esforços de prevenção ao suicídio. O dono de um café na entrada do bosque disse ao jornal "Japan Times" já ter salvado cerca de 160 pessoas ao longo dos 30 anos em que trabalha ali. Sua estratégia consiste em ficar de olho nos visitantes que chegam desacompanhados.
Estudiosos ressaltam a complexidade do tema e veem motivos diversos. Se a solidão costuma ser a causa principal de depressão e suicídio entre idosos, os mais jovens enfrentam dificuldades em lidar com estresse e insegurança financeira. Segundo dados de 2010 da polícia japonesa, 57% dos que tentaram suicídio naquele ano estavam desempregados. Além disso, diferentemente de outros países, o Japão tem a tradição de honrar o suicídio - e não tem nenhuma cultura religiosa que o condene.
Nenhum comentário:
Postar um comentário